diário da redação
Dando uma espiadinha no BBB8
edição de Eduardo Valente

Gozado como certos assuntos "afloram" sem muita dificuldade na nossa redação. O Big Brother Brasil, por exemplo: ano passado foi foco de muita atenção nossa, em vários e vários artigos; este ano, com um elenco claramente mais fraco, tem sido recebido quase com silêncio por aqui (exceção a este texto do Júnior). No entanto, foi só eu mandar uma rápida impressão sobre o programa do dia 4/3, quando foi eliminada a Juliana, que em menos de uma madrugada três outros "espectadores" se juntaram a um papo bem animado - que agora reproduzimos aqui porque nos parece interessante explicitar esta dinâmica de algo que, por mais que não esteja nos ocupando longamente nas reflexões escritas, claramente está subrepticiamente ocupando nossos olhos e cabeças (por algumas noites, ao menos).

* * *

Eduardo Valente, 4/3/2008, 22:59

Primeiro dia que assisto um episódio realmente inteiro do BBB8: achei muito “complexo” este jogo, estas pessoas problemáticas. Má TV isso, cheira a filme de Bergman de terceiro escalão. Saudades de Alemão e Alberto, era TV melhor, telenovela das boas.

Fábio Andrade, 4/3/2008, 23:18

Pois é, achei que o dedo na cara da tatiana ia animar as coisas, mas só serviu pro melodrama pesar mais nas tintas. o que mais me incomoda de todas as mudanças dessa edição é o tal do detector de mentiras. enquanto as outras arbitrariedades da direção tentam mexer no convívio deles (algo que o programa sempre fez, embora não com tanta intensidade), mexer na relação do espectador com o programa é um tiro no pé. reduz um big brother a quem fala mais ou menos mentira, o que nunca foi uma questão pra mim, ao menos.

Eduardo Valente, 4/3/2008, 23:19

É o lado doutor do mundo do programa versão Brasil. Agora, se comprova uma velha máxima da dramaturgia: na falta de um herói minimamente interessante (o Alemão não passa sequer perto de ter um equivalente nesta edição), fiquemos com o anti-herói, pra ter um mínimo de drama. imagina sem o Marcelo: era fechar a casa, literalmente.

Luiz Soares Júnior, 4/3/2008, 23:56

O Marcelo é a versão encarnada do Big Brother (o próprio), só que em tom de farsa. Tão fascista e grotesco quanto. Acharam um personagem que encarnasse o princípio da coisa, algo dos meus estudos de Filosofia me avisa que este é o sinal do fim.

Ilana Feldman, 5/3/2008, 1:17

Por que seria esse o final do fim, junior? é aí onde tudo começa e se recicla!, na autoconsciência do jogo, que nas últimas edições tem garantido os melhores momentos. "melhores" porque essa autoconsciência é sempre falha e, em algum nível, desliza. o que foi a cara do psiquiatra marcelo, de quem vestiu a carapuça durante o brilhante discurso do psicanalista bial? e ele (o marcelo) depois chamando para 'si próprio' o bial de "vagabundo", tipo, "você me deve essa"?

o bbb8 tem entrado em um nível de autoproblematização como nunca vi. com esse 'psi' no jogo, o que está em jogo são sempre as formas de desestabilização e fragilização psicológicas. bergman de quinta com lars von trier?

sobre o detector de mentiras, fábio, acho que a despeito da premissa absolutamente policialiesca, ele não funciona. simplesmente porque a dramaticidade das performances vai minando os critérios de verdadeiro e falso, os quais acabam parecendo tão imprecisos quanto as próprias falas (e quanto a própria contagem dos números da votação, como vimos). bom, ao menos assim tem me parecido. eu me desconcentro totalmente da geringonça.

Fábio, 5/3/2008, 2:54

Eu também ilana. é mais a intenção da coisa que me incomoda, porque o resultado é mesmo muito pouco preciso (ele muda de um stress alto, pra uma verdade e uma mentira de uma palavra pra outra... se a análise for precisa, temos ali um estudo beeeem interessante sobre a estruturação do discurso humano hehehehe).

será excesso de otimismo pensar que o público, ao contrário da edição passada, mantém o marcelo lá por também perceber que sem ele o programa vai pro saco? nunca fui com a cara dele, mas sem ele por lá eu provavelmente abandonaria o programa de vez. alguém se lembra da chatice que ficou a edição passada com a saída do caubói?

Júnior, 5/3/2008, 3:56

É, Ilana, mas esse "para si" demorou a se mostrar.

Acho que até a metade do programa tivemos uma regressão ao nível tatibitati, à estratégia de melodrama fotonovela (anti-estratégia) do primeiro BBB. O nível de maleabilidade performática, de camuflamento, de "esquizofrenia positiva", que foi ao auge com um Alemão (com o qual eu nunca simpatizei, mas que admito foi uma figura interessante por catalisar e manipular técnicas de controle e projeção, e ainda assim manter o carisma de herói "em si", naif) parecia ter regredido, chegado a um limite além do qual não há possibilidade de retorno, como diria o amiguinho Kafka. Entropia mesmo, zero grau.

Esse foi o BBB até o Marcelo aparecer; o lado psicótico do cara, quero dizer. Realmente vc tem razão, a coisa aparece “acabada”, no limite de suas possibilidades para algum critério muito alheio à vitalidade esquizofrênica ainda em jogo ali; parece que há agora um equilíbrio (totalmente desequilibrado, como deve ser ) entre a estratégia e a pulsão, a segunda levando a melhor a maior parte das vezes. O que me enoja um pouco é a semelhança que eu vejo entre o estado atual das coisas – incentivado pelos constantes telefonemas e outras táticas de acirramento da agressividade no grupo, que afinal deram resultado – e uma sociedade fascista, por exemplo, onde uma série de fenômenos de projeção, transferência, toda uma economia psíquica nojenta são usadas para fins imediatos, regulares mas que acabam por submergir à força desastrosa que eles a princípio pensaram poder controlar.

Março de 2008

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