in loco - festival de brasília
2007 Quarto/quinto dia: um bom curta -
e outro ainda melhor por Cléber Eduardo
Faltando apenas a uma noite
no Festival de Brasília, não há dúvida que os curtas, se comparados aos do ano
passado, subiram de nível. No entanto, se tivemos alguns curtas “profissionais”,
uns mais redondos, outros nem tanto, estava faltando, até a noite de sábado, uma
proposta de vôo alto - mesmo não podendo ignorar a experiência estética de Décimo
Segundo, de Leonardo Lacca, único da categoria a ser vaiado após a exibição
por recusar a organização dos sentidos. É um trabalho a ser melhor analisado em
segundo momento, mas, desde já, está entre os trabalhos defendidos por este crítico
nas rodas de discussão em Brasília. Também
não podemos deixar de lembrar de Uma, de Nara Riella, exibido na sexta.
Com olhar delicado e quase formalista, mostra-nos uma diretora superior a seu
filme, se isso pode ser possível, ao menos no tocante às maneiras de resolver
a cena, com poucas palavras e uma hábil relação com corpos e espaço. O ambiente
dramático é o de uma jovem mulher, claramente em crise não declarada com o marido.
Indiferença. Algumas repetições de planos para demarcar a rotina importante e
uma seqüência aparentemente inspirada em A Noite, de Michelangelo Antonioni,
quando a protagonista larga tudo por uma tarde para se perder de si mesmo. Se
não fosse a explicação do desenho da filha da personagem, que diagnostica a não-comunicação
do casal, a mais bela seqüência do filme teria impacto superior. Em todas as aparições,
o marido está de costas, ou com a cabeça fora de quadro. No momento-chave, a câmera
se aproxima do casal, faz uma curva: pela primeira vez, mostra o rosto do homem.
Seria lindo se a solução não tivesse sido cantada por um momento anterior. Na
noite de sábado, porém, quando Trópico das Cabras, de Fernando Coimbra,
começou a ser exibido, surgia o curta que balançou as estruturas da mostra
até aqui - segundo este crítico, pelo menos. Nos primeiros segundos,
a luz de sóbria beleza de Lula Carvalho e a proximidade da câmera com os corpos,
nos dá algumas pistas. Câmera tátil, carícias da lente no corpo de uma jovem (Larissa
Salgado), pedaços de sua pele, de seu vestido ao mar, movimento do mar. Fluxos,
jogo com foco, meio rosto. Há uma aproximação, na prática dos espaços recortados,
com Uma. Há um aparente projeto estético se de trabalhar sensações; olhares;
atmosferas. Vemos um casal sobre o qual pouco saberemos, ela seduzindo outros
com olhares, ele um homem mais velho, passivo diante do envolvimento dela com
outros. Tara no ar. Sensualidade. Estaríamos diante de uma pequena obra prima,
única, se não fosse o receio de a imagem não dar conta da narratividade, impondo
a voz em espanhol para dar conta de uma subjetividade, quando essa subjetividade
já estava mais que resolvida. Novembro
de 2007 editoria@revistacinetica.com.br
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