A Maldição da Flor Dourada
(
Man Cheng jin daí huang jin jia)
de Zhang Yimou (China/Hong Kong, 2006)
por Cléber Eduardo

O vermelho, o dourado... e só!

Antes da intriga palaciana se instalar em A Maldição da Flor Dourada, já se identifica a overdose de retumbância cromática, impondo aos nossos olhos um desfile de vermelhos e dourados, garantido pelos figurinos e pela direção de arte. De uma maneira próxima a do francês Jean Pierre Jeunet (Amélie Poulin), Zhang Yimou é menos um pintor e mais um colorista, importando-se menos com a construção do quadro, com a dinâmica do plano, e mais com os elementos visuais lá evidentes.

Não tem sido sua marca desde pelo menos Sorgo Vermelho (1987)? Já se foram 20 anos, mas, na cabeça de Yimou, sua tarefa é colorir a China. De preferência, com stars locais, como Gong Li e Chow Yun-Fat, rostos internacionalizados. Yimou tem se firmado como cineasta chinês para o Ocidente, herdeiro daquela tal estética da 5ª Geração dos realizadores locais saídos da faculdade estatal de cinema na China – estética essa expressa em filmes como Lanternas Vermelhas, dele mesmo, e Adeus Minha Concubina, de Chen Kaige, que tratavam de questões relacionados ao poder e à opressão com imagens empenhadas em transbordar beleza pelas cores fortes.

Sempre há quem ainda tenha a demanda de beleza fácil e o fetiche por clichês do orientalismo estético atendido por essa tática de cinema. Mas também é possível, sem uma lupa, enxergar seu rame-rame. Há uma certa monotonia estética e uma “monodramaticidade” nas situações, que contamina desde a voltagem das traições familiares da nobreza chinesa até a maneira de se colocar em cena a pele de porcelana de Gong Li. Está certo que a atriz-musa, como sabe qualquer ser humano agraciado com a capacidade de enxergar, é uma beleza em si. Isso ajuda, evidentemente

Talvez esteja menos acerto apenas apontar a câmera para o “decote de drama de época”, sobretudo para aquela parte dos seios disposta a saltar fora do tecido. É como se o diretor estivesse filmando distraidamente, sem assumir a relação sexual presente na atividade da câmera (do olho do filme), sem assinar a valorização do decote em cena, mas não deixando de ignorá-lo também. Há uma preguiça em toda essa operação, visualizada nas escolhas burocráticas para a posição da câmera, em um olhar que parece não se relacionar com nada, nem mesmo com o decote de sua musa, ao qual filma com notável indiferença. Um olhar que mostra, sem enxergar.

Setembro de 2007

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