in loco
Seminários Cineop 2007: Do edifício ao seu eco concreto
por Paulo Santos Lima

Mesa 1 - Anos 50 – Transição para o moderno – Da Vera Cruz a Rio 40 Graus

Mesa 2 - Filmes extintos e filmes-mito – Como fica o historiador sem a imagem?

Mesa 3 - 2º Encontro de Arquivos Públicos – O estado dos filmes, o Estado e os filmes

Mesa 4 - O cinema, o contexto cultural e o universo da intelectualidade mineira nos anos 50 e sua repercussão nacional

Mesa 5 - Estéticas de Minas. Mineiridade contemporânea: entre o anedotário e o poético

Fiquei impressionado com o resultado das cinco mesas de debate deste 2º Cineop (sobre as quais de pode ler no particular nos links acima - sendo que o quinto delas, na impossibilidade da minha presença em toda sua duração, foi coberta por Cléber Eduardo). Muito pelo que foi discutido em cada uma delas, claro, mas sobretudo pelo conjunto, ou seja, pelas conexões feitas entre os debates, em que as pautas saíram de uma determinada mesa para chegar em outra, fazendo do quinteto uma única grande discussão que rendeu algo que eu chamaria de mais “prático”, ou concreto. Porque, se essa intercomunicabilidade não é algo incomum, é um tanto raro um seminário que transcenda seu instante, que seja um estopim ou alavanca de uma discussão maior, mais profunda e mais material, prática, reativa. Saí de Ouro Preto compelido a resgatar algum fio solto que possa ser costurado num pensamento maior sobre o nosso momento histórico, tão estéril de idéias que reflitam e proponham ao homem um outro modo do estar no mundo, uma nova filosofia existencial, uma grande trama entre existência biológica e ideológica, entre estar e ser, ou seja, a arte.

O retrós dos anos 50 foi encontrado e rendeu algo mais que prático: um debate a ser seqüenciado a partir de agora e um documento que propõe diretrizes para criação de novas políticas públicas de preservação (que, tudo leva a crer, foge da ourivesaria burocrática do que fora formulado até agora e tenta algo imediato, direto, prático). A preservação, bem sabemos, responde a algo sobre nossa identidade que não essa que é tão citada, essa que postiçamente promove distinções entre humanos e opta pelo reducionismo: é, com todo o vazio e indefinição do termo que uso aqui, algo que nos identifica como seres do mundo, sem necessariamente encaixes ou bandeiras, mas apenas pela existência em si.

Por fim, é bem curioso que, no fluxo dos debates, houve uma espécie de narratividade, inclusive temporalidade, partindo dos anos 40/50 para chegar aos nossos dias, uma verdadeira saga resgatando o pensamento efervescente daqueles tempos para lançá-los agora, pegando o que ele tem de contrário ao que fazemos hoje, nesse quase deserto crítico no qual vivemos, com a discussão entre intelectuais, críticos e cineastas dando-se, muitas vez, sob o maior autismo. O correr histórico não é feito de fraturas, mas de um grande fluxo, e daí que a pauta dos seminários tenha me iluminado sobretudo sobre hoje, até porque a história, a ação em si,  já foi feita... por Nelson Pereira, Alex Viany, Glauber etc. Esses cinco seminários partem, portanto, da construção para chegar ao seu eco.

editoria@revistacinetica.com.br


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