cartas
dos leitores A questão dos personagens
Ola, Cleber. Bem interessante
seu texto. Discordo, porém,
quando diz, no último parágrafo, que o filme não coloca as ações para posterior
reflexão. Parece-me não ser necessário provocar isso de forma tão didática (sem
a carga negativa da palavra). As próprias "opções" – pois, apesar de
estar em jogo o próprio pescoço diante da escolha da ação ética, são opções –
já provocam por si só essa reflexão. Penso que o personagem não precisa ser necessariamente
julgado no filme. Mesmo que não ocorra nada a eles, ações como ajudar um serial
killer, deixar um amigo ir a forca etc, são por si só passíveis de condenação,
se analisados à luz do rigor ético. E o que dizer então das perguntas: "será
que eu agiria da mesma forma devido às mesmas pressões?", "minha
cabeça viria também à frente das dos outros e dos meus princípios?", entre
outras?! Não creio que se saia ileso de tais filmes. E muito
difícil desprender ações de referências tão fortes quanto as que permeiam tais
tipos de relações a ponto de descolá-las de seus contextos e dos manuais de comportamento.
Em todo caso, não sou nenhum especialista, mas apenas um iniciante nessa aventura
pelo cinema. Abraço e obrigado pela atenção, Álvaro Andrade
Alves * * * Caro Alvaro Obrigado
pela mensagem e pelas atentas observações. A serem pensadas com mais calma, as
suas colocações. Enquanto pensamos, uma nova substância
pode ser analisada, nesse sentido, que é do estar em quadro de Kate Winslet em
O Leitor, como tratei em meu texto sobre o filme.
Imagens de sua bela nudez em uma entrega à intensificação da vida na primeira
parte, com charme de uniforme de operária com abertura para literatura. Na segunda
parte, nenhuma imagem sua no campo de concentração onde trabalhava também uniformizada,
apenas testemunhos, muitos deles forjados, restando sua palavra (a de Kate) como
único caminho para a verdade, da qual ela não tem medo, porque só não quer a vergonha
de ser descoberta uma iletrada, um medo bastante compreensível para uma lógica
nazi, para além de sua universalidade. Mais relativismo, atenuado por uma morte,
que ajuda na absolvição abraços Cléber Fevereiro
de 2009
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