cartas
dos leitores
HU - O Enigma
Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2012.
É
preciso entender que uma posição crítica
implica em inevitáveis ambivalências: estar apto
a julgar, julgar-se, optar, criar, é estar aberto às
ambivalências, (...) o que não significa que não
se deva optar com firmeza: a dificuldade de uma opção
forte é sempre a de assumir as ambivalências e destrinchar
pedaço por pedaço cada problema. Assumir ambivalências
não significa aceitar conformisticamente todo esse estados
de coisas; ao contrário, aspira-se então
a colocá-lo em questão. Eis a questão.
Hélio
Oiticica
Caros Editores da Cinética,
Li o texto sobre
o ‘HU’, recém-lançado filme que
dirigi em parceria com Joana Traub Csekö. Afora uma ou outra
matéria em jornal, trata-se da primeira resenha crítica
que o filme recebe em português. Começamos mal. O
texto parte de pressupostos equivocados e acaba por materializar
a maldição que, já no primeiro parágrafo,
o autor identifica no filme. Resolvi escrever para esclarecer
alguns pontos sobre o filme e tentar entender como se chegou às
conclusões apresentadas no texto e, assim, com sorte, estabelecer
um diálogo com os críticos da revista.
Vimos no ‘HU’ – por sua incompletude,
sua monumentalidade, seu traçado corbusiano e etc. –
um símbolo do modus operandi da coisa
pública (res publica) no país. Não
fomos os únicos, os espectadores em geral conseguem enxergar
uma metáfora nesse edifício – é da
ordem do ‘óbvio-ululante’, por que negar isso?
De fato, após o roubo das janelas do lado abandonado do
prédio, o HU se tornou uma síntese retiniana do
fracasso de um projeto, produto exemplar da gestão pública
ineficiente e perdulária tantas vezes praticada pelo Estado
brasileiro. Não foi por outro motivo que escolhemos o HU:
ele materializava em imagem e som uma discussão relevante
e urgente. Propusemos assim o edifício como metáfora
ao espectador. Afinal, sua situação está
longe de ser uma exceção, seja em relação
aos hospitais universitários do país, seja ao conjunto
maior das grandes obras públicas: é apenas a mais
emblemática. Por isso, estranhamos quando o texto publicado
pela revista afirma que “essa espécie de paixão
pela linha reta revela também um limite claro que o projeto
de Pedro e Joana tenta se desvencilhar mas não consegue,
que é a crença naquele espaço como metáfora”. Trata-se
de uma afirmação maliciosa, que sugere o fracasso
de um projeto que não existe. Confesso minha curiosidade
em descobrir que momento ou cena do filme sugeriu essa suposta
‘tentativa de desvencilhamento’ ao crítico.
Como foi possível considerar tal empresa quando essa perspectiva
do prédio atravessa todo o discurso do documentário?
Tampouco fui capaz de entender de que maneira nossa “espécie
de paixão pela linha reta” revela nossa ‘fracassada’
tentativa. Construções como essa revelam mais a
necessidade de conexão entre frases e expressões
‘de efeito’ (abundantes no texto) que uma articulação
genuína de idéias. Se a perspectiva que escolhemos
para construir nossa história – esta que elege o
HU como ‘metáfora’ – não pareceu
legítima ou correta, se ela incomoda o autor da resenha,
seria interessante que ele a analisasse e articulasse uma crítica
a ela. Infelizmente, no entanto, o crítico se limita a
lançar suspeições obscuras e aparentemente
gratuitas sobre o filme. Em passagens como essa e em adjetivações
como “uso muito curioso da geometria
e dos grafismos dos quadros”, o crítico parece agir
de forma leviana, abstendo-se da análise e acabando por
não dizer nada (‘Curioso’ em quê? Por
quê? De que maneira?), sem se esquivar, no entanto, de colocar
o filme sob suspeição, para prejuízo do leitor,
especialmente daquele que ainda não teve a oportunidade
de assistir o documentário.
Um pouco mais adiante, o crítico parece
não entender o tratamento dado às entrevistas. Insiste
em não enxergar a ironia com que expomos o discurso institucional:
o entrevistado distante e ao centro do quadro (um quadrado!),
a frontalidade do olhar, o enquadramento com muito teto (pé-direito
alto), as siglas que localizam o entrevistado no espaço
da instituição (e que explicitam/reiteram sua posição
privilegiada, expondo os dispositivos do poder institucional),
e, paradoxalmente, um discurso quase sempre pessoal e afetivo.
As instituições são feitas de pessoas, afinal,
e é por isso que elas estão no filme. No ‘HU’,
os ‘especialistas’ contextualizam, trazem informação,
densidade discursiva, diferentes pontos de vista. E nesse sentido,
é interessante perceber como o discurso de cada entrevistado,
todos eles professores ou pesquisadores acadêmicos, se articula
com o lugar de onde se fala, revelando os limites discursivos
de cada área do conhecimento. Nesta direção,
é sintomático que sejam os arquitetos os únicos
capazes de pensar o prédio como um todo (sim, o “homem
ruivo”, além de paciente do HU é arquiteto
formado pela UFRJ; e não, ao contrário do que sugere
o crítico à guisa de um humor bizarro, sua hesitação
é sintoma de reflexão, não de patologia). Pois,
apesar de ignorada na resenha, a Prof. Margareth Pereira, arquiteta,
também coloca a mesma questão que o texto só
celebra na voz do paciente “de frente para uma janela, em
plano médio, com soro preso ao seu branco [sic]
por um fio transparente”. Margareth se pergunta em
cena: “Como ser também responsável por sonhos
que são maiores do que nossa capacidade de sonhar?”.
Ao contrário do que a crítica parece sugerir, a
dúvida sobre o prédio (Um fracasso? Uma grande vontade?
Um sonho maior que nossa capacidade de sonhar?) atravessa todo
o filme. Lembrar da Margareth e de outros, no entanto, não
interessa à tese que o crítico se esforça
em defender. Uma tese que oculta mais do que expõe e parece
acreditar que os filmes acontecem por acaso. Foi grande a surpresa
de ver essa ‘tese’ aplicada ao ‘HU’, um
filme em que há montagem inclusive dentro do plano, um
filme com a montagem em primeiro plano.
A esta altura, começa a ficar claro que
o ‘HU’ não é o filme que o crítico
queria ver. E esta arrogância que exige outro filme, parece
ter impedido ao autor do texto de fruir e analisar o filme que
existe. O crítico, afinal, não perdoa que o ‘HU’
frustre suas expectativas. Prefere o lamento à análise.
Não demonstra disposição em abandonar pressupostos
que evocam os grandes lugares-comuns relativos a um discurso sobre
a saúde e a educação públicas, insistindo
em não ver que o filme é uma crítica ao caráter
autoritário do ideário modernista. Que ele coloca
em xeque as sínteses totalizantes. Que ele mobiliza o espectador,
que fala com ele, coloca questões. No fundo, fizemos a
opção mais arriscada, experimental e, portanto,
polêmica: entrelaçar a dimensão estética
da ruína moderna – com sua eloqüência,
sua plasticidade – ao discurso, à psicogeografia,
ao drama que permeia aquele lugar. Este drama é verbalizado
no filme, ele não reitera nem ratifica as imagens, mas
as torna mais densas, complexas. Imagem e discurso se potencializam
mutuamente, não “se anulam”. Evitamos assim
a opção que nos pareceu mais fácil, domesticada,
a saber, o ensaio contemplativo sobre a beleza de uma ruína
modernista onde, como defende o crítico – “há
algo que se contém e se autoexplica em cada pedra ou pó,
em cada tijolo (...), e que parece pedir que o deixe só”.
Assertivas como essa parecem esquecer que o HU não é
uma paisagem natural. Filmar cada pedra e pó fora da história,
como se apenas pedra e pó fossem? Existe essa abertura
no filme, mas existem também os discursos caleidoscópicos
sobre o lugar. Como nos lembra Oiticica, “é preciso
entender que uma posição crítica implica
em inevitáveis ambivalências”. E aquele lugar
exige, inclusive eticamente, que se fale sobre seu drama, que
se faça sim um ‘escafandrismo’ da coisa pública.
Não tenho, afinal, o menor compromisso com um Brasil minúsculo.
Não cultivo pudor que me impeça de me debruçar
sobre algumas das problemáticas brasileiras. Será
isso démodé? Não se pode politizar
a estética? Ou será que nosso crítico preferiria
uma abordagem apolítica de um lugar tão simbólico
e sintomático quanto o Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho? É o que parece sugerir quando encerra o texto
com a assertiva: “É preciso manter os espaços
vazios.”
No ‘HU’, fundimos aspectos formais
desse edifício-personagem, tais como sua arquitetura moderna
e seu consequente envelhecimento, sua monumentalidade, sua imensa
área abandonada, à dados que informam esse espaço,
tais como o encadeamento das falas, do discurso, de diferentes
pontos de vista que debatem entre si e colocam questões
para o espectador. Através da articulação
destes dois elementos que poeticamente chamamos de “formais”
e “informados” – e que, em verdade, são
indissociáveis – o filme potencializa a dimensão
política deste locus de maneira experimental.
O documentário foi realizado no formato
2:1 (o comprimento da tela tem o dobro de sua altura), o que permite
que, em alguns momentos do filme, a tela seja dividida em dois
quadrados. O recurso, longe de ser gratuito, permite o ‘debate
audiovisual’ entre os especialistas entrevistados, além
de sublinhar a simultaneidade e a vizinhança das diversas
ações que se desenrolam nas duas metades do prédio
e propor uma reinvenção da arquitetura do edifício.
São múltiplos os usos dos quadrados, mesmo considerando
apenas as situações de entrevista. Escrever que
“vemos as imagens ao lado destes homens de jaleco para que
entendamos sua fala.” revela um reducionismo atroz. Ao longo
da resenha, o autor, que tem horror às hibridações
e parece cultivar um gosto por purismos, parece um pouco desnorteado
com os diversos dispositivos de que o filme lança mão.
É possível adivinhar no texto uma dificuldade de
localizar o filme no arsenal de referências cinefílicas
do crítico. Toda anomalia causa mal-estar.
Terminada a leitura, restam inúmeras perguntas.
Infelizmente, não se tratam de questões sobre o
filme ou reflexões propostas pelo autor da resenha. Elas
dizem respeito ao entendimento do que foi escrito. O texto revela
um gosto parnasiano pelo rebuscamento que na maior parte das vezes
compromete sua compreensão. Cria-se assim um vácuo
de sentido estranho a análises ou reflexões mais
rigorosas. Um vazio – irresponsável, inconseqüente:
já não importa o filme que se viu/ouviu na tela.
Por fim, cumpre deixar claro que o filme já
estava montado quando finalmente se resolveu pela implosão
de sua metade arruinada. A discussão sobre o que fazer
com a ‘perna-seca’, que remonta à inauguração
do hospital, esteve na ordem do dia da Instituição
durante todo o processo de realização do filme,
sem que nos fosse possível adivinhar os termos de uma eventual
decisão. Neste sentido, a implosão é um evento
extra-ordinário, uma suspensão, um final além
do final. Não foi, no entanto, determinada a priori,
nem me parece razoável afirmar que ela “se descola
do filme, pois não parece combinar com as demais partes”.
Afinal, ela é resultado de uma reflexão rigorosa
que resultou numa construção incomum, tão
distante da imagem-clichê de implosões quanto próxima
das regras internas que regem a elaboração de todo
o filme – o prédio cai num quadro igual a outro plano
usado anteriormente. Para os cariocas, no entanto, é naturalmente
difícil ignorar que o prédio foi de fato implodido.
É um dado da realidade consensual (assim como a maldição
e o espelhamento que o crítico quer fazer acreditar criado
pelo filme). A situação do HU é da ordem
do trágico.
Na esperança de que recebam com tranqüilidade
esta correspondência por vezes dura, reitero minha disposição
à discussão. Todo artista busca com seu trabalho
um diálogo com o mundo. Uma busca muitas vezes frustrante,
especialmente no caso do cinema brasileiro realmente independente
que, dada as dificuldades históricas de distribuição,
acaba por depender fortemente do circuito de festivais e da críticaonline,
estabelecendo com estes uma relação nem sempre saudável.
A demanda por fóruns de discussão simpáticos
à livre troca de idéias é imensa. Os realizadores
pensam, refletem e escrevem sobre sua produção e
de seus colegas, mas muitas vezes não encontram onde partilhar
essa produção extra-filme. As revistas eletrônicas
como a Cinética, infelizmente, não têm espaço
para comentários. Na seção de cartas, a
última mensagem data de novembro de 2010. Por
outro lado, a atividade crítica sugere algum distanciamento,
mas este é assunto para outra conversa.
Um abraço,
Pedro Urano
Diretor/Produtor
HU
* * *
“Se não formos capazes de enlouquecer
o ocorrido – entendê-lo como louco (não incompreensível,
mas louco) - , de injetar variantes nele, mostrá-lo sempre
a beira do apagamento, sempre à borda de outra interpretação,
se o que ficar de um fato não for a borra de múltiplos
fatos possíveis, se o efetivo não prestar homenagem
a tudo que não subiu à superfície,
se não cantar o réquiem dos acontecimentos que morreram,
as notas inaudíveis de seus berros, bem, então será
melhor recitar alto, todos os dias, as manchetes que a gente lê
nos jornais. Porque a isso vai se resumir a nossa vida”
(Nuno Ramos em “ó”, pg. 167-169, capítulo
14 “Prédios vazios, contra fatos, arquitetura ruim,
simultaneidade”)
Caro Pedro Urano,
Primeiro vou tentar desenvolver um ponto que está no início do meu texto e da sua carta. A tal “maldição” que mencionei é a que acomete os filmes que são colocados, sob a alcunha de “documentários”, e assim, se vêem numa certa obrigação de fidelidade com o mundo além-filme. Essa ligação, em geral, parte de um pensamento que crê nessa linha reta (a tal linha que comento) que liga o mundo às imagens, onde se estabelece um vínculo absolutamente direto, e digamos proporcional, entre as partes. Essa é maldição que me parece que HU sofre, justamente por tentar fugir dela, e ser o que você chama de “experimental” (noção negativa, que depende de uma tradição e da consolidação de um “não experimental”). O que ratifica isso é a excessiva crença na metáfora, no símbolo, que funciona como um eixo fundador do filme, e como sua carta reafirma. Uma palavra que você usou, “emblemático” (sim, poderia ter escolhido outras como: “indiscutível”, “óbvio-ululante”, “síntese retiniana”, por exemplo) resume bem o ponto principal da minha crítica ao filme (estou falando do filme, mas há elementos da carta que me valho para esclarecer as idéias que formulei sobre o filme no texto anterior). Segundo o Houaiss, ela quer dizer: “ sentença ou mote que encerra uma ideia moral numa imagem ou gravura e em versos que explicam o sentido inerente a ambas; figura simbólica, ser ou objeto concreto representativo de uma ideia abstrata ; Derivação: por extensão de sentido: distintivo ou insígnia de instituição, sociedade, associação etc., utilizada no traje ou em objetos a elas relativos”.
O argumento em relação ao filme se refere a um certo “encerramento” de uma idéia em uma imagem. Para falar desse processo, me utilizei de um elemento muito importante no filme que é a linha reta, e liguei, assim, essa idéia a essa imagem. A maldição é justamente esse processo que leva de uma coisa a outra, de uma idéia a uma imagem, de uma imagem a uma idéia, sem nenhum resto, eco, ou desvio, esse trajeto “eficiente” entre os elementos. Não por acaso, percebo na carta (e também no filme, em menor proporção) um desejo muito forte de consenso, de uso desta ideia como mecanismo argumentativo, em diversas passagens, como nas palavras que destaquei, para justificar caminhos. E o consenso é onde a discussão para. É seu avesso. Essa ligação reta também está na sua tentativa de colar suas intenções ao que o filme é. Para que fazê-lo então? Se arte não gera algum tipo de dissenso ela não serve absolutamente para nada.
Um dos momentos onde esse traço aparece na carta é quando você evoca o “Brasil” e as “problemáticas brasileiras”, no quarto parágrafo. O Brasil tem o tamanho que você quiser. É um conjunto delimitado, inventado, que traz consigo uma carga de sentidos, muita marcada por necessidades de um estado (no sentido que parece que você usa). E se esse conjunto existe fora do filme (o que não estou certo), dentro do filme ele é um elemento como os outros e precisa ser trabalhado como ferramenta estética, que aponte caminhos dentro desse seu campo de batalha que é outro (e que, por ser outro, se projeta ainda mais, com mais liberdade, para fora de si mesmo). Não posso dialogar a partir desse pressuposto, de uma realidade consensual, estamos falando de arte. Trata-se de criar mundos para habitação variada, justamente. E aí está o problema do espelho, da linha reta, do símbolo. É aí que ele para.
A questão do vazio que levanto ao final do texto diz respeito a uma mudança de lógica, de paradigma, que o prédio, especialmente a perna seca, não para de afirmar. A perna seca é a vingança do lado de lá, ela é a resposta a toda a mania incurável de intenções e funcionalidades do projeto moderno (que o texto do Fábio descreve com precisão), ela é o silêncio gritante que narra o fracasso de uma idéia mas não de todas as idéias. Neste sentido ela é um sucesso, pois é um efeito de um modelo que o questiona frontalmente, que se dobra sobre ele mesmo. Tenho que discordar de você: o HU é sim uma paisagem natural, orgânica. E o que está ali em fluxo é justamente o tempo. A imagem da planta que nasce sob aquele pó é materialização clara disso: é o habitante que não estava no projeto na intenção, é talvez, assim, a forma de vida mais efetivamente “natural” daquele prédio. Buscar estas outras linhas talvez seja o caminho mais difícil, ao não pintar aquelas paredes de emblemas ou símbolos. Quem mora na perna seca é justamente o tempo. E há ali a expressão de um desejo que é absolutamente genuíno mas que não nasce através de um caminho direto, e sim, das rachaduras, sinuosidades, vazamentos variados e infiltrações. Uma vida que grita, no silêncio, por um direito à inutilidade, porque nossos propósitos, intenções e “projetos eficientes” já causaram dano demais (e essa ressaca está longe de ser novidade). O vazio causa justamente um intervalo no espaço, faz um furo nessa lógica reta (e no seu oposto exato), funcional, instaurando através desse não-espaço, dessa negação em concreto, um novo tempo, quebrando a lógica linear e instaurando um lugar onde vários tempos coexistem e se cruzam, onde não se sabe se está se regredindo, progredindo, ou parando, pois se está fazendo tudo isso ao mesmo tempo. Essa é a idéia de arte que acredito. E sim, tenho idéias concebidas antes do filme e não vejo problema algum nisso. Na verdade, não entendo como se possa não ter idéias “prévias”. E, de fato, o filme negocia com elas, necessariamente. Mas te asseguro que os dois saem desse encontro modificados, e esse é meu compromisso como crítico, colocar esses elementos à prova, em fricção.
Como você deve ter percebido, escolhi não responder sua carta ponto por ponto, por achar demasiado enfadonho para mim e para quem mais se dispuser a acompanhar essa discussão. Além disso, receei que o ponto principal (que de fato acho uma discussão que se propaga para além do caso do HU, e fala de uma concepção de arte e de pensamento) ficasse eclipsado pelo bate-rebate de acusações e por discussões que me parecem não levar a lugar algum. E me coloco disponível para esclarecer qualquer outro ponto que te parecer necessário nessa conversa.
Espero sinceramente que a livre troca de idéias não pare por aqui.
Um abraço,
Juliano Gomes
Março de 2012
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