cartas dos leitores
O Leitor e o Cineasta (sobre Guilherme Coelho e Os Recrutas)

O Leitor:

Olá, pessoal da Cinética.

Não sei se esse é o tipo de feedback que vocês estavam esperando mas, de qualquer forma, deu vontade de comentar:

Não assisti a Fala tu, primeiro longa do Guilherme Coelho, mas,pelo conteúdo de algumas respostas dessa entrevista, não antevejo coisa muito boa no novo filme.

Primeiro: Ele comenta que o filme vai se interessar por olhar uma instituição que representa a ordem "no Brasil - um país que odeia instituição e ordem". Fiquei me perguntando de onde ele tirou isso, que Brasil é esse que odeia instituição e ordem? Fica parecendo um pressuposto preconceituoso (ainda mais pra quem mais abaixo diz que não quer teorizar antes de filmar).

Segundo: ele segue em frente com um olhar generalizante, transformando os jovens do país em coitados, sejam ricos ou pobres: os primeiros são puxa-sacos e servidores públicos sedentários e adúlteros, pessoas passíveis de pena e desprezo, como demonstra a frase: "Tá todo mundo com medo de perder o que já tem, tendo muito ou tendo pouco. É aquele lance de "encostar" em alguém ou algum emprego público e ficar ali, vendo os anos passarem, tomando Skol, e eventualmente praticando um adulteriozinho sem traumas." Os segundos começam a trabalhar cedo, em empregos desinteressantes e chegam aos 20 sem perspectivas ou sonhos.

Ok, isso tá mais perto do que se vê em volta da gente, mas o tom de pena é que me mata, como se quem não tá naquela utopia de trabalhar no que sempre sonhou com um sorrisão permanente, ganhando um dinheiro legal, é um miserável novamente passível de pena. Fica parecendo que ele não consegue lidar com mais nada além dos extremos: se não amam, odeiam as instituições e ordem; se não são jovens felizes (nos critérios dele), são frustrados.

Sublinha mais abaixo que quer fugir do "paternalismo reinante no país", mas fala do alto de um pedestal dando voz aos seus pobres coitados conterrâneos...

abraços,
Francisco


O Cineasta:

Polêmica! Polêmica!...

É difícil se defender de um “ataque” como este, que acredito advir de alguns mal entendidos...

Posso esclarecer que não acho que os jovens são todos uns coitados nem dignos de pena, mas talvez, sim, uns deprimidos, subutilizados...

Não sei se entendi de todo a segunda metade das observações, mas gostaria de esclarecer que acredito que os jovens pobres também são adúlteros – não apenas os ricos. Não fiz essa diferenciação.

Sobre a questão “instituição e ordem”, gostaria de pensar junto com o leitor se as instituições e a ordem no Brasil são respeitadas – e se a resposta (a) "Sim, as instituições e ordem no Brasil são respeitadas/obedecidas" é verdadeira...

No mais, peço ao leitor que aguarde o Recruta (se é que um dia o filme fica pronto), e enquanto isso tente assistir ao DVD do Fala Tu.

Sinceramente,
Guilherme Coelho


editoria@revistacinetica.com.br

« Volta