in loco Dia
1: Hoje é dia de rock por João Cândido
Zacharias A chama eterna dos Stones
Shine
a Light, de Martin Scorsese (EUA, 2008) – Filme de abertura Filme
de abertura desse Festival de Berlim, Shine a Light é a celebração entre
amigos dos 45 anos de carreira dos Rolling Stones, completados em 2007. Não só
45 anos de carreira: 45 anos de carreira, ininterruptos!! Martin Scorsese, que
começou sua própria carreira uma ano depois dos Stones (em 1963, com o curta What’s
a Nice Girl Like You Doing In a Place Like This) parece fascinado com esse
número no documentário-show que acaba de dirigir. O filme
tem início com uma breve introdução mostrando a preparação do cineasta e da banda
para os dois dias de show no Beacon Theater, em Nova York, onde aconteceram as
filmagens. Esses dez primeiros minutos lembram muito o tom cômico do curta/propaganda
dirigido recentemente por Scorsese, The
Key to Reserva, onde ele também é personagem importante e, atuando no
seu próprio papel, revela uma faceta auto-paródica até então pouco conhecida.
Divergências entre o diretor e os Stones, edição paralela entre a calma de Mick
Jagger e a confusão de Scorsese, a presença de Bill Clinton atrasando o inicio
do show... O filme começa cheio de elementos que parecem mostrar que as filmagens
da apresentação dos Stones serão caóticas. Mas
que elemento pode ter mais força, na arte, do que o caos? Porque, quando Scorsese
grita “First song!”, aponta para o palco e dá um zoom na guitarra de Keith Richards,
tudo está perfeitamente em seu lugar. Daí pra frente serão quase duas horas
de energia, num acúmulo de quatro vidas vividas juntas durante 45 anos, e que
explodem cada vez que sobem ao palco. De vez em quando, aqui e ali, entram pedaços
de entrevistas com os Stones, desde os seus primeiros anos até mais recentemente.
Na primeira delas, um jornalista pergunta a Mick Jagger: “Quanto tempo você acha
que os Stones ainda duram?”, ao que ele responde, meio blasé,
“Não sei, talvez um ano”. Corta para seu rosto, no meio do show, totalmente elétrico.
Suas rugas, seus traços, seus rosto, sua performance são todos personagens-chaves
nesse filme. Shine a Light é, de certa maneira,
um filme histórico, posto que analisa quase toda a segunda metade do século XX
através de música dos Stones. Política, religião, drogas, amizades... Tudo parece
fazer parte de Jagger, Richards, Wood e Watts e, consequentemente, do filme de
Scorsese. Os dez minutos finais são uma apoteose que faz valer o título do filme
(tirado de uma canção da banda): a luz dos Stones brilha com força e parece, cada
vez mais, fadada a permanecer eternamente acesa. O plano final, com a cidade totalmente
iluminada por eles, faz sair do cinema com um sorriso de orelha a orelha. Shine
a Light é para ser assistido de uma das primeiras fileiras de um cinema com
uma tela enorme e um som forte, para que se possa ser queimado pelo fogo dos Stones,
e cegado por sua luz. *** O
outro lado do rock CSNY Déjà
Vu, de Bernard Shakey (EUA, 2008) – Berlinale Special
Interessante
assistir com menos de uma hora de intervalo a dois documentários protagonizados
por bandas de rock que começaram suas histórias nos anos 60. Se no filme de Scorsese
tínhamos os Rolling Stones celebrando seus 45 anos, aqui temos o CSNY (David Crosby,
Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young) estrelando um documentário sobre a guerra
do Iraque. Guerra do Iraque? Também fiquei surpreso ao descobrir, assistindo ao
filme, que era esse o tema de CNSY Déjà vu. O documentário, dirigido
pelo próprio Neil Young (sob o pseudônimo Bernard Shakey), segue uma turnê de
reencontro da banda, que aconteceu em 2006, a partir de uma idéia dele próprio:
lançar um disco em protesto contra a guerra do Iraque (Living With War).
Até pode-se tentar paralelos entre o filme de Scorsese e o de Young/Shakey, mas
não seriam justos com nenhum dos dois filmes, já que seus interesses são totalmente
opostos. Em CNSY Déjà vu, o que Young parece querer
é estender para uma outra mídia a sua lista de reclamações e problemas com o governo
Bush e com o momento político de seu país. E é aí que o interesse cai – e com
força. Porque a lista de canções desse disco de protesto do CSNY inclui músicas
com títulos como “Let’s Impeach the President”, “Living With War” e “The Restless
Consumer”, com letras que levariam um Michael Moore ao paraíso. O discurso de
Young é mais do bom e velho “doutrinar para os doutrinados” – o que o filme inclusive
deixa bem claro, na sequência em que um grupo de republicanos (aqueles malditos!),
fãs da banda, saem no meio de um show, ofendidos com suas letras. As
composições, os arranjos e, principalmente, o dom para a guitarra e o violão que
todos os integrantes do grupo sempre tiveram continuam intactos. As músicas são
belíssimas e os shows parecem realmente bons. Mas golpes baixos (todos lembrando
muito um sub-Moore) como os rostos dos soldados mortos na tela, a quantidade enorme
de gente chorando em cena, pausas dramáticas depois de uma fala “bombástica”,
fazem o interesse sumir lá pelos 20 minutos de filme. Realmente não dá para se
escorar só na mensagem ou só na boa intenção. O “como” se discursa ainda continua
o mais importante. Fevereiro de 2008 editoria@revistacinetica.com.br
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