em primeira pessoa
bergmantonioni - uma nota ainda ao cinema moderno
por Felipe Bragança

Reconheçamos, então, aqui e às pressas, em novas paragens: a boa aventura:

Mais dado biográfico que cinematográfico, a morte em cascata de Bergman e Antonioni fazem um rapaz de 26 anos ficar pensando o quanto esse tempo se transforma nas minúcias de uma década – 1997-2007. Quando eu era um acho-que-vou-ser-cineasta aos 16 anos e ficava sabendo que gente como Bergman, Antonioni e um Godard estavam vivos, ainda que distantes, eu achava incrível, fantástico, coisa pra se comentar na roda de amigos menos cinéfilos – um pouco como se eu pudesse fazer parte ainda dessa tal história do cinema moderno, do cinema em geral, do século XX... Mesmo tendo chegado assim tão atrasado (sou de 1980, que horror!!), a sensação era essa; era essa, sim. Aí agora essa morte deles, desses monolitos-cineastas assim em som-e-eco, eternos, psicológicos, desses cineastas do incômodo que são duas matrizes gritantes de muita, muita, mas muita coisa do que a gente chama de cinema contemporâneo... Sabemos que eles deram sim, e mesmo que se relute, o diapasão em torno do tal se pôde flutuar em grande parte da cinematografia que vemos agora. Não que o moderno ainda estivesse aqui antes de uma morte, que até dar nomenclaturas assim é coisa meio coisa morta. Fica então é essa sensação curiosa, que é um misto de saudade da inocência de se descobrir os filmes deles (filmes os quais já desejei, cansei, critiquei, cuspi no prato que me fez feliz, revi, cansei de novo, falei mal) junto com uma sensação curiosa de campo aberto, de “agora-já-não-há” meio tristonha e meio alegre. Cinema moderno, assim pensando, ilhota, tá indo aonde meu Deus, se foi? Era ilha, não. Afunda...



Numa cinematografia e crítica brasileira, então, que até 10 anos atrás ainda viviam às turras de uma viuvez preguiçosa, fico imaginando o que é que essa falta nos dará – o que a falta nos dá? Rever os filmes todos ou esquecê-los? Mmmmm... Pensemos bem antes de cometer um desvio... Não sei? Ou sei... O plano do céu no Sétimo Selo foi daquelas coisas que quando eu vi projetado pensei... “quero ser cineasta.” OU: viva o cineasta sueco! Assim como Deserto Vermelho parecia dizer: filme-se a alma que se vê! São essas coisinhas que se acumulam na pele, e parecem nada, mas são um pouco como se você estivesse sendo batizado... Me lembro bem. Aos 16, Rio de Janeiro, era isso e olhar as meninas passando, bater bola, colecionar figurinhas da NBA. Doenças do espírito, psicologia, esse cinema moderno que pega e pegou tanto – até em quem desdenha com inteligência ou recalque... Fico imaginando como é isso agora, embora há tempos ambos os cineastas produzissem pouco, para não dizer o mínimo... Fica essa sensação de que estão se aposentando/retirando os titulares de um céu estrelado do que se viu como negação de um modelo de cinema industrial genérica e simplistamente intitulado “hollywoodiano”... E aí, isso agora, a morte física de algo que era uma morte em arte, uma composição da arte como morte da cena clássica...



Ventinho bom: Tá tudo tão bom, silencioso – torres gêmeas – começo do século XXI enfim? Foi bonita a festa, mas a dança já não há. A dança é outra? Vejam só, e aí olho meus amigos pouco taciturnos e penso: a bola está com quem? Nos interessa a mesma bola? (Parece que tem mais espaço pra jogar ali na meiúca... Ou isso já seria uma ironia grosseira ou falta de imaginação?) Falta de respeito? Não. É com amor e louvação o desapego – porque é igual ao deboche dos meus 16 anos: pipoca e sessão vespertina num Estação Botafogo (sem grandes tentáculos) de 1997. Vão com Deus e puxem-lhe a saia! Daqui a sensação é que o tempo passou. E, como seus filmes, passou impregnado de querer ser mais, ainda acima de tudo ou além deles mesmos. Eita! Uma notinha assim, é saudosista ou é sarcástica? (pausa) Enigmática coisa que fica velha e jovem ao mesmo tempo e que me faz chorar ou pensar filmes que vão além de si – “Cansei desse Bergman! Cansei desse Antonioni!” – bufando...  É outro tempo esse que tem o tal cinema - porque é um tempo que pede que outros venham por dentro dele e o desvirtue em outras virtudes. E isso é bonito. Digam o que quiserem, essa falta nessas horas, que dá, é bonita pra chuchu. FIM


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