Aproximação
(Disengagement), de Amos Gitai (Israel/França/Itália/Alemanha, 2007) por
Cléber Eduardo De
fora de casa
Amos Gitai divide a estrutura de
Aproximação em um prólogo e duas partes. No começo, um homem
e uma mulher, no corredor de um trem, trocam palavras amistosas. Um policial italiano
os interrompe e, não sem tensão, entabula uma conversa sobre identidade, origem,
nacionalidade, questionando a viabilidade daquela conversa, a do casal no corredor,
por ele ser israelense, ela palestina, embora ambos tenham outros braços identitários
fora do Oriente Médio. Em suma, identidade, em contextos de exílios e deslocamentos,
é um nó. Essa seqüência inicial, sem desdobramentos posteriores, parece indicar
um caminho. Uma situação de aparência prosaica, como o conflito burocrático vivido
pelo “casal” com o policial italiano, conota uma situação política. É disso, portanto,
que se trata. Conotar. E Gitai, ao abrir o filme com esse prólogo, nos ensina:
as pessoas estão acima de suas origens geográficas e nacionais. Nada a opor. No
entanto, pela maneira de articular as situações, Gitai tem menos interesse nos
personagens e, mais uma vez, como em Free Zone, emprega seus percursos
para mostrar especificidades de Israel. Denotar. Se
a primeira parte, ambientada na França, é puro estranhamento, com investimento
na performance maluquete de Juliette Binoche, a segunda é familiar a Gitai. A
protagonista e seu irmão adotivo perdem o pai cheio do dinheiro e, por razões
distintas, partem para os territórios ocupados por israelenses na Palestina. Ela
vai atrás de um laço de família. Ele está incumbido, como soldado de Israel,
a participar de uma missão: a operação de retirada dos colonos. O filme dá de
ombros para os personagens, dando-nos pouco deles em experiências e em percepções,
porque, acima de tudo, empenha-se em usar a ficção para documentar Israel. Está
no efeito de verdade das imagens dos rituais religiosos e do confronto entre soldados
e colonos a força dramática e visual de Aproximação. Não
é sua consciência da multiplicidade de origens em uma mesma família, nem sua reivindicação
de uma humanidade acima de identidades, que conduz a lógica da soma de cada imagem
ou é colocada na linha de frente da narrativa. Essa posição
é ocupada, justamente, pelo efeito de experiência. Mesmo filmando com aqueles
pesados planos-seqüências, que se arrastam pelos ambientes, como se estivessem
a fazer arqueologia deles, Gitai nos propõe a sensação de estar em Israel, ao
menos em dado momento: o da retirada. Essa sensação, porém, é mediada. Assim como
em Free Zone, o olhar se detém em uma estrangeira, alguém em seu primeiro
contato com Israel, experiência de descoberta, acima de tudo, marcada pelo estranhamento.
A internacionalização dos dois filmes, um estrelado pela americana Natalie Portman,
outro pela francesa Juliette Binoche, estimula duas especulações. Gitai estaria
interessado em internacionalizar a questão Israel? Ou estaria somente adaptado
a uma dinâmica de produção internacional, que, por implicar uma visão euroanglocêntrica,
altera o lugar de onde se olha a questão? Esse olhar de fora reivindica do diretor
uma aproximação com partes de seu país com uma atitude de estranhamento e de revelação
ao mesmo tempo. Gitai começa a falar de fora de Israel. Seu filme seguinte, Plus Tard, Tu Comprendras, foi uma produção francesa. Novembro de
2007 editoria@revistacinetica.com.br
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