in loco - cobertura dos festivas
Além do Jogo (Beyond the Game), de
Jos de Putter (Holanda, 2008) por Eduardo Valente
Mergulho
num outro mundo
As primeiras imagens de Além do Jogo
deixam claro bem rápido que este não é apenas mais um documentário preocupado
somente em passar informações. A forma como ele acompanha ludicamente alguns longos
planos de “travelings” virtuais sobre imagens do jogo de computador Warcraft III
demonstram um desejo de imersão naquelas telas que, no fundo, parece ser o verdadeiro
objeto do filme. Muito mais do que documentar este ou aquele jogador em sua busca
pelo título de melhor jogador do mundo, o que o filme deseja é tentar entender
de alguma maneira o fascínio que este novo universo exerce sobre os jovens que
ele retrata – e aí podemos considerar centrais os planos que voltam em diferentes
momentos do filme mostrando os olhares vidrados de uma enorme platéia para a transmissão
num telão do jogo decisivo do campeonato. Nas panorâmicas de um rosto a outro,
Putter tenta encontrar uma forma de se relacionar com esta imagem que escapa a
sua compreensão, como já foi o caso de tantos grandes documentários na história. A
maneira como ele escolhe buscar este entendimento é particularmente bem sucedida
porque seus três personagens principais são ao mesmo tempo extremamente exemplares
e muito carismáticos com a câmera. Mais do que isso, ao escolher seguir em especial
dois deles, Putter captura alguns momentos bastante significativos que tornam
os personagens muito mais do que apenas “jogadores de Warcraft úteis à
narrativa". O chinês SKY e o holandês Grubby têm histórias fascinantes, mas,
mais do que isso, são cercados por outros personagens interessantes – seus pais,
suas namoradas, seus times de jogo. Putter domina com inteligência o acesso a
cada um destes núcleos narrativos, criando gradualmente uma narrativa bastante
complexa que dá conta de desnudar um universo particular, mas também os dois protagonistas
do filme, onde no final das contas serem jogadores de Warcraft é menos
importante do que estarmos lidando com os eternos temas do desejo de reconhecimento
e superação, além da fugacidade da glória. Mas,
o que torna Além do Jogo uma experiência cinematográfica realmente forte
é a atenção que o diretor dá para o componente puramente estético desta captação.
Para além das belíssimas imagens do jogo e a maneira como são usadas, há ainda
uma riqueza de detalhes enorme na tentativa de capturar a sensação de um evento
em torno deste jogo, com alguns momentos muito fortes de tensão que dão noção
do esforço físico e mental envolvidos. Os planos em detalhe dos olhos e das mãos
dos jogadores durante as partidas têm um efeito quase de hipnose, em que percebemos
o estado mental alterado que está em questão ali (muito bem definido pelo outro
personagem do filme, o ex-jogador sueco). Em última instância, sem nenhum moralismo
nem decadentismo, é de tentar entender do que é composto este estado que trata
Além do Jogo. E que ele chegue sequer perto de nos passar uma idéia sensorial
forte sobre isso já é um tremendo elogio que podemos fazer ao filme. Outubro
de 2009editoria@revistacinetica.com.br
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