Quebrando a Banca (21),
de Robert Luketic (EUA, 2008)
por Fábio Andrade Campeão
moralEm
Quebrando a Banca, um grupo de jovens universitários é treinado por um
professor com vistas a memorizar cartas em partidas de 21. Embora a atividade
não quebre lei alguma, sua sobrevivência é ameaçada pelos carrancudos seguranças
de cassinos e pelas novas tecnologias de monitoração e controle adotas pelos estabelecimentos.
A esses jovens, resta apenas aproveitar a sobrevida dessa habilidade, embebedando-se
de seus próprios talentos, com toda a sede de presente que o futuro parece limitar.
Uma vez que o mergulho de Robert Luketic em universos de
tipificações já havia rendido o bom Legalmente Loira, era de se esperar
que de sua aproximação com mundos coloridos por luzes de neon e mesas forradas
de feltro verde saísse um filme interessante. De fato, Quebrando a Banca
sustenta essa impressão sempre que adentra um novo ambiente (seja ele uma universidade,
uma loja de roupas ou um cassino), nos momentos em que o olhar sobre um novo universo
conserva algum frescor e encanto. A jornada de excessos proposta pelo filme –
que vai do comportamento dos personagens às incessantes viradas de roteiro – parece,
porém, se amornar conforme Luketic demonstra ter menos certeza de em qual lado
do muro ele quer se colocar. Quebrando a Banca se equilibra parcamente
entre a estilização e o realismo, entre o hedonismo e a culpa – mas esse suposto
equilíbrio parece, sempre, reduzir em reflexo uma potência não realizada. Se
visualmente isso leva a planos que oscilam entre o franco interesse e a banalidade
não desejada, é na relação com os personagens que Quebrando a Banca se
perde em sua própria estrutura. Pois se mesmo em um discurso estritamente conservador
as personagens do filme passam longe da ilegalidade, por que Luketic pesa sobre
elas a necessidade de redenção? Nos giros em falso de seu próprio roteiro, Quebrando
a Banca se constrói como parábola de reabilitação, onde jovens inteligentes
e talentosos, que ganham dinheiro com facilidade dentro dos limites da lei, são
obrigados a passar por uma curiosa purgação moral. Ao fim do processo, o professor
é capturado por não fazer nada de ilegal, e os jovens perderão todo o dinheiro
que ganharam legitimamente. Isso tudo para que um segurança de cassino, que passa
boa parte do filme espancando clientes em cárcere privado, tenha a chance de tomar
todo o dinheiro dos protagonistas, e torrar tudo em uma farta e merecida (?!)
aposentadoria. Como é? Maio de 2008editoria@revistacinetica.com.br
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