Os
12 Trabalhos, de Ricardo Elias (Brasil, 2006) por
Eduardo Valente Trajetória
em construção Certamente dois longas-metragens
é muito pouco para se definir o “estilo” de um cineasta, mas vendo Os 12 Trabalhos
é impossível não perceber as semelhanças de projeto que o filme tem com o longa
de estréia de Ricardo Elias, De Passagem: uma narrativa constantemente
em movimento pela cidade de São Paulo, a importância do espaço das ruas na história,
a opção por personagens eminentemente da periferia, uma jornada de um dia marcada
principalmente pelos pequenos acontecimentos, pelas cenas simples, pelas relações
entre os personagens. A melhor notícia deste novo filme
é que nele se resolvem bem melhor algumas das inconsistências que o primeiro filme,
como quase todo filme de estréia, ainda revelava. Aqui vemos não só Elias, mas
também seu roteirista, seu fotógrafo, em suma, todo o time de seu primeiro filme
trabalhando de maneira mais azeitada. Mas é da direção que vem mesmo a mais notável
diferença em Os 12 Trabalhos: Elias parece ter encontrado aqui seu melhor
ritmo, numa narrativa que se desenvolve com uma gostosa calma (após um começo
um pouco desencontrado), sem parecer fazer força para encontrar seu desenlace
dramático, culminando com uma seqüência final bastante forte. Chama a atenção
em especial a breve seqüência que retrata os quadrinhos desenhados pelo protagonista,
onde vemos uma mão bem mais segura com o elenco infantil e com o ritmo diferenciado
do que nos flashbacks do filme de estréia. Curiosamente, a seqüência resulta
até melhor do que algumas outras mais simples, cuja estrutura de plano e contraplano
parece ainda um pouco travada. O filme todo gira em torno
de seu personagem principal, Heracles (e se talvez a relação com os nomes gregos
e a idéia dos 12 trabalhos não fosse necessária, também não chega a comprometer).
Este é interpretado com considerável presença por Sidney Santiago, mas talvez
o roteiro ajudasse mais o personagem se não fizesse tanta força em deixar clara
a sua “sensibilidade” (desenhista amador, ele reflete em off seguidas vezes
sobre as vidas dos personagens com quem cruza, numa estrutura um tanto repetitiva
que, depois de um certo momento, adiciona bem pouco ao filme). Se Heracles marca
o espectador é menos por isso tudo que diz e mas na maneira com que Santiago olha,
e como o personagem age nos pequenos momentos da sua rotina. Se
Os 12 Trabalhos não chega a ser o filme marcante que algumas seqüências
até permitem ver que teria potencial para ser, o que parece mais importante é
mesmo afirmar o nome de Ricardo Elias como um cineasta com visão de mundo e de
cinema, capaz de dar continuidade a uma carreira consistente. E uma cinematografia
se faria muito mais rica com mais cineastas com estas características, do que
marcada por arroubos de gênio em meio ao marasmo absoluto.
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